E foi na luta pelo direitos trabalhistas das mulheres, no início do século 19, que a pauta feminista ganhou força e galgou, ao longo dos anos, muitos desafios, mas também conquistas. Neste 08 de março, as advogadas Cibele Moura e Maria Ketiane falaram um pouco sobre as perspectivas das mulheres no mercado de trabalho e no meio jurídico.  Confiram a entrevista feita por Simony César

 

Comunicação: – Cibele, como você percebe a mulher no mercado de trabalho e principalmente no setor jurídico?

Cibele: – A mulher vem ganhando realmente espaço na sociedade, isso é uma conquista histórica que já vem de tempos através de muitas lutas e não é diferente no tocante à questão jurídica, né? Porque para se chegar aqui, nós (mulheres) precisamos passar horas de estudo – assim como também é dedicado pelos homens, mas no caso específico das mulheres, com as várias jornadas que a gente tem, é desafiador.

O fato de muitas empresas terem os cargos de comando ocupados por homens ainda é visto como resquício de todo procedimento histórico que as mulheres vêm reivindicando. Você olha na política mesmo, existe um incentivo para se ter mais mulheres atuando no parlamento, no Congresso, nas Câmaras, mas a participação delas ainda é proporcionalmente muito pequena.

Comunicação: – E quanto a você, Ketiane? 
Ketiane: – Eu experimentei ser advogada numa fase de transformação muito boa em termos de aceitação da mulher. Eu, como advogada, nunca passei entrave por ser mulher, mas eu conheço outras histórias e com isso concluo que sou privilegiada. Eu percebo que a PBGÁS estimula essa igualdade, esse respeito é o que eu sinto desde que passei a trabalhar aqui. Com relação ao mundo jurídico eu não sofri nenhum preconceito por ser mulher na defesa do Direito, na atuação da profissão, pelo contrário. Eu tenho muito orgulho, porque eu vivi uma fase diferente, então é uma fase de orgulho, de coragem, de estímulo para que eu, como mulher, marque meu território. Reforçando, ser mulher com as várias jornadas não é um fácil desafio.

Cibele: – Eu vou até interromper Ketiane, o fato de ser mulher, na profissão que a gente exerce, é até favorável, porque a gente lida cotidianamente com leis e, hoje em dia, as leis primam muito pela igualdade, respeito. Seria contraditório nós trabalharmos no ambiente jurídico e ficar sofrendo esse tipo de discriminação. Eu não me vejo, no exercício da profissão, recebendo nenhum tipo de tratamento diferenciado por ser mulher.

 

Comunicação: – Então a pauta feminista do início do século 19, quando operárias começaram a reivindicar direitos trabalhistas, de fato, cumpriu seu objetivo quando comparado às experiências de vocês?

Cibele: – Com toda certeza, apesar delas terem pagado com a vida, foi válido por todas as áreas. Especificamente, pela área jurídica, a gente encontra mulheres ocupando cargos de Ministra no Supremo Tribunal Federal. Então, assim, se elas estão ali, certamente é porque estão comungando desse entendimento que a gente tá dispondo aqui.

Ketiane: – Voltando à história da nossa profissão, eu acredito que o que nos dá muita força, enquanto advogadas mulheres vivendo o resultado da batalha de outras, é esse nosso contato com a lei, com o que é certo, mesmo sabendo que nem sempre é aplicado da forma como deveria, isso dá força por essa batalha, entendeu? A gente vai pro embate por saber que existe esse direito de reivindicar. Isso nos dá coragem e força e de certo modo intimida posturas de preconceito. A gente acaba sendo um instrumento, eu mesma já recebi consultas de amigas, muitas, de várias classes sociais e isso é gratificante poder ajudar outras pessoas quando vem de mulheres do âmbito de violência, separação judicial, porque a gente sente a importância da nossa orientação para com elas.